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Hiperatividade: um sintoma a ser repensado

Photo credit: amenclinics_photos via Visualhunt / CC BY-SA
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As palavras hiperatividade, deficit de atenção, comportamento opositor passaram a ser frequentemente utilizadas no momento atual. O chamado TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção – dominou livros, equipes escolares e famílias, justificando o sintoma hiperatividade como uma nova doença. É importante esclarecer que hiperatividade é um sintoma que chama a atenção para algo que não vai bem com a criança ou adolescente, mas que não quer dizer que o problema está na criança ou no adolescente. Parece que todas as crianças desatentas, desobedientes, peraltas, desorganizadas, instáveis estão paulatinamente sendo transferidas para uma categoria diagnóstica de TDAH. Segundo a Organização Mundial de Saúde, 5% de qualquer população é portadora desse transtorno.

Temos, de modo geral, duas polaridades de opiniões: de um lado, os especialistas de base americana que veem a criança como a portadora da doença, inclusive confundindo o sintoma hiperatividade como TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Se a criança é a responsável, então ela deve ser medicada e a “ritalina” é o medicamento mais falado no momento. Na outra polaridade, a criança é vista como absorvendo a falta de atenção, tempo e significação da própria escola, da própria família e – por que não? – dos próprios profissionais que lidam com as chamadas pessoas hiperativas. Além do contexto virtual em excesso onde estão banhadas.

Nem um contexto e nem outro podem ser considerados adequados, pois primeiro temos que focar na pessoa portadora de comportamento hiperativo, desatento ou diagnosticada como TDAH, porque, antes da medicação, eu tenho que compreender como o cliente – a complexidade – interage no meio, como contextualiza as possibilidades, os limites e como constrói o conhecimento do mundo. Quais fatores favorecem ou impedem o desenvolvimento?

O que não posso perder de vista é que a primeira forma de me tornar humano é na relação com humanos, portanto, o processo de “humanizar-se” está vinculado à forma como os adultos cuidam. Só por este item, ninguém está destituído desta construção. Também é preciso marcar que, numa sociedade onde os valores de ter falam mais alto que os valores do ser, tudo que for imediato e prático é muito mais rapidamente absorvido do que processos terapêuticos onde a família é inserida para rever suas atitudes.

O mesmo comportamento serve para as escolas brasileiras que a cada dia perdem mais a significação do ato de educar, entupindo as crianças com informações que não são construídas com elas. Resultado: formamos um ser humano robotizado, sem contato com suas questões interiores, sem uso de sua intencionalidade, sem o prazer de sentir a construção própria e sem formatar a capacidade mínima de agir com autonomia.
Todos estes dados agem sobre a construção interna, principalmente sobre a sua capacidade de formatar seus dados psicomotores e de poder ou não construir uma síntese psicomotora onde as habilidades de coordenação motora fina e grossa, lateralidade, viso-motora, organização temporo-espacial estão entrelaçadas e harmoniosamente em ação sempre que o sujeito age intencionalmente.

Hoje, através dos estudos das neurociências, reconhecer que somos interdependentes entre o que fazemos e o que sentimos e que a troca relacional e afetiva afeta de forma profunda a formação bioquímica cerebral são contextos aceitos. Quando a criança ou jovem é impedido de agir de forma expressiva, criativa e autônoma pelos atos familiares e escolares, as sinapses cerebrais não são estimuladas, as áreas frontais mantendo uma frequência repetitiva e empobrecedora das funções cognitivas, afetivas e relacionais.

Antes de medicar uma criança ou adolescente, consulte um neuropsicólogo para uma análise contextualizada junto ao espaço familiar e escolar.

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