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O PAPEL DAS FUNÇÕES EXECUTIVAS

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Foto: Gordon McKinlay on VisualHunt.com / CC BY-NC-SA

 

As funções executivas são as funções cognitivas mais complexas do ser humano. São as mais relacionadas a outras funções da cognição humana, como atenção, linguagem e memória; as mais associadas ao sucesso pessoal, acadêmico e do trabalho, assim como a índices de saúde mental e física.

O conceito mais tradicional que se pode encontrar na literatura nacional e internacional é que as funções executivas são habilidades cognitivas na ordem da supervisão, coordenação, revisão e organização de pensamentos, emoções e comportamentos em busca do alcance de um ou mais objetivos, exigindo que nos adaptemos a fatores internos ou externos para atingirmos metas, das mais simples às mais complexas. As funções executivas são acionadas quando necessitamos sair do nosso padrão de funcionamento, isto é, quando não podemos mais agir no nosso “piloto automático”.

Recentemente, a neurocientista Adele Diamond, da Universidade Colúmbia Britânica, refere-se às funções executivas como: memória de trabalho ou memória operacional, controle inibitório e flexibilidade cognitiva, todos esses

relacionados às funções executivas de alta complexidade, que também são três: raciocínio, resolução de problemas e planejamento.

A memória de trabalho é um tipo de memória que nos permite executar duas ou mais tarefas ao mesmo tempo e relacioná-las com diferentes informações armazenadas em outros sistemas de memórias (como memória de longo prazo e de curto prazo). Por exemplo, para compreender um texto, precisamos manter o que acabamos de ler em mente (na memória episódica de curto prazo), relacionar com o que conhecemos a respeito do assunto ou do fato (memória semântica ou episódica de longo prazo) e ainda relacionar com o que vai ser lido.

Essa conexão de múltiplas tarefas denominamos memória de trabalho.

O controle inibitório (conhecido também como inibição de impulsos) é a nossa habilidade de resistir a interferências internas ou externas, de ordem mais racional ou emocional, para que possamos pensar e executar uma tarefa ou processar uma informação predominante. Esse componente das funções executivas está relacionado à atenção concentrada focalizada ou seletiva, isto é, aquele tipo de atenção que nos permite focar predominantemente algo por determinado tempo.

A flexibilidade cognitiva ou mental é aquela habilidade de alternarmos tarefas, de adaptarmos nosso modo de pensar, de mudarmos de estratégias ou adotarmos um plano e assim por diante. Assim, podemos ver de diferentes ângulos e nos ajustar às variadas possibilidades do dia a dia. Está muito relacionada à criatividade humana.

As funções executivas mais superiores, como raciocínio e resolução de problemas, são muito relacionadas à inteligência humana. São consideradas mais flexíveis e estimuladas ao longo da vida. Todos esses componentes são essenciais para o desenvolvimento cognitivo e socioemocional do ser humano.

Aprender a ler, escrever e calcular são algumas das aprendizagens mais importantes e complexas do ser humano, que serão aprimoradas ao longo da vida. No período pré-escolar, da aprendizagem informal à educação infantil, as crianças vão desenvolvendo suas habilidades de linguagem oral, comunicação, socialização, de noções matemáticas e de funções executivas.

A criança necessita de componentes diversos das funções executivas para conseguir “fazer uma ponte” da linguagem oral para escrita, transferindo seus conhecimentos de uma para outra, alternar e evoluir nos seus modos de absorver o mundo lúdico da pré-escola à escolarização formal, com aumento gradativo da sistematização e de “cobranças”.

Transpor nossos conhecimentos do nível da linguagem oral para ler e escrever, isto é, para o nível de linguagem escrita, é um dos marcos de maior complexidade cognitiva da vida de todas as pessoas. Sempre que avançamos para um passo maior e mais difícil, mas de grande importância e necessidade como esse, as funções executivas entram em jogo. Então, isso se mostra desde associar um som (fonema) a uma letra (grafema) e unir o significado de várias sílabas em uma palavra reconhecida a partir de sua primeira sílaba, até manter na mente o primeiro parágrafo e assim por diante.

Os componentes das funções executivas são necessários para supervisionar e distribuir energia cognitiva para lermos e escrevermos. Cada nova e mais complexa etapa, maior será exigida das funções executivas.

Cada vez mais estudos e observações clínicas e escolares trazem evidências de relação das funções executivas com dificuldades de leitura, escrita ou matemática, assim como com os transtornos específicos de aprendizagem (dislexia, com prejuízos na leitura; disortografia, com prejuízo na expressão escrita; discalculia, com prejuízos na matemática).

O componente executivo mais relacionado a tais dificuldades é a memória de trabalho. No entanto, cada vez mais o controle inibitório, a flexibilidade cognitiva, a velocidade de processamento, o planejamento e a teoria da mente têm sido considerados habilidades precursoras ou mediadoras do desenvolvimento da aprendizagem do ler, escrever e calcular.

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