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Kica de Castro: a fotografia além das aparências

 

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Caroline Marques: modelo com paraplegia, nomeada a primeira Miss Brasil cadeirante | Make up: Andre Lima e Foto: Kica de Castro

Kica de Castro fotografa a beleza além das aparências. Desde 2007, ela é dona de uma agência de modelos homônima para pessoas com algum tipo de deficiência e hoje conta com 86 agenciados. Mesmo estando em São Paulo, a fotógrafa pretende fazer uma exposição com o tema “beleza e esporte Rio 2016” na Barra da Tijuca, juntamente com um desfile, ainda com data a definir. Além disso, ela conta que está negociando também a produção de um calendário tendo como cenário principal a praia do Recreio. Por enquanto, ela e mais dois de nossos vizinhos, uma estilista deste bairro e um produtor da Barra, ainda rascunham como será este trabalho. Enquanto estão em planejamento, conheça mais a profissional.

 

Kica de Castro a fotografia além das aparências
Kica de Castro também trabalha com fotos de casamento | Foto: Divulgação

Como surgiu a ideia de fotografar pessoas  com alguma deficiência?
Nada nessa vida é por acaso. Temos que estar no lugar certo, escutar as pessoas e aproveitar as coisas positivas. Em 2002, fui chefe de fotografias em um centro de reabilitação para pessoas com deficiência física. Os pacientes ficavam tímidos em ser fotografados para prontuários médicos, em peças íntimas, em casos raros, o nu, sempre nas posições globais, frente, costas e as duas laterais com o número do prontuário do lado. Todos eles sempre ficavam de cabeça baixa. Resolvi levar para o estúdio um pequeno espelho, pente, gel, maquiagem e bijuterias. As fotos continuavam sendo científicas, mas antes da sessão a pessoa tinha cinco minutos de contato com a própria vaidade. Assim, eles começaram a procurar para fazer books pessoais. Vendo que eles voltavam com a cabeça baixa, fiz pesquisas, mas tudo o que eu achava era na Europa e ainda havia outro obstáculo: a distância. O que precisava era de uma oportunidade, então, em 2007, larguei o emprego fixo e abri uma agência de modelos para pessoas com algum tipo de deficiência – relembra.

Desde quando é fotógrafa?
A fotografia é uma paixão que vem de infância. Profissionalmente falando, trabalho como fotógrafa desde o ano de 2000, quando deixei agência de publicidade para fazer fotos de eventos corporativos e sociais.

Qual o maior objetivo da sua agência?
Mostrar que a questão da beleza não é uma questão de padronização. Deficiência e beleza não são palavras opostas. Também queremos mostrar que essa é uma  profissão na qual a pessoa precisa estudar, seguir regras, afinal, queremos igualdade. Agência é segmentada, todos os modelos têm alguma deficiência, mas queremos que os trabalhos sejam inclusivos, pessoas com e sem deficiência no mesmo espaço de trabalho, com deveres e direitos garantidos.

Com o seu trabalho, você mostra um lado da beleza que não é explorado. O que é a beleza para você?
A beleza é muito relativa, vai de gosto. O que pode ser bonito para mim, pode ser feio ao ponto de vista do outro. A beleza é uma atitude, um sorriso, é fazer o bem, é lutar pelos objetivos. Fisicamente falando, é quando a pessoa cuida de si, faz atividades físicas, tem uma boa alimentação,  cuida da aparência,  tem uma vaidade moderada. Ter amor próprio é fundamental.

 

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Paula Ferrari, fisioterapeuta e modelo com mielite. Usuária de cadeira de rodas para longas distâncias. Editorial para marca de moda inclusiva Fator Brasil. | Make up: Andre Lima e Foto: Kica de Castro

O que é mais recompensador no seu trabalho?
Valorizar o ser humano como ele é sem precisar usar computação gráfica para tratar as imagens. Mostrar a realidade e as pessoas reconhecerem o trabalho como arte e os modelos com profissionais altamente qualificados.

Você é realizada profissionalmente?
Graças a Deus sou totalmente realizada, faço o que gosto. Fotografar é uma paixão e ver que as pessoas gostam do resultado, que é uma forma de quebrar paradigmas, levar mudanças para inclusão, isso não tem preço! Sou grata por cada conquista diária, pelas pequenas coisas que vamos torná-las grandes.

Tem projetos para sua agência?
Sempre pensamos em ir além, de dar um novo passo, isso faz parte da rotina da agência. Os projetos são as exposições, continuar com as palestras para universitários, pois acredito que colhemos aquilo que plantamos. Hoje, falamos de inclusão para que os futuros profissionais saiam para o mercado de trabalho com a mente aberta para esses consumidores com deficiência. Afinal, o Brasil tem cerca de 46 milhões de pessoas com alguma deficiência e que precisam ser incluídas em tudo, questão beleza não pode ficar de fora.

Pretende fazer alguma exposição entre Recreio e Barra sobre o seu trabalho?
O planejamento para fazer uma exposição na Barra é para 2016, juntamente com um desfile. O local ainda será definido.

Já fez trabalhos para fora do Brasil?
Sim, para grife italiana, alguns em Berlim e Portugal. A Europa aceita melhor o profissional com deficiência, não vê como diferença, dá mais oportunidades de trabalho, trata as pessoas com igualdade, como de fato tem que ser, não vê como “coitadinhos” e tão pouco como “super-heróis”. As oportunidades de fato são de igual para igual, sempre respeitando as questões de acessibilidade, proporcionando o acesso de ir e vir a qualquer momento e com independência.

 

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Maraísa Proença, modelo com amputação de membro inferior e paratleta na modalidade halterofilismo. Foto para exposição “Toda nudez vai ser revelada” | Foto: Kica de Castro

O seu trabalho é inclusivo. Como está o mercado para modelos com deficiência física?
O agenciamento é segmentando, o meu casting é formado só por profissionais com alguma deficiência, em maioria são deficientes físicos. Já os resultados são em grande parte inclusivos, em que os profissionais estão dividindo o mesmo espaço com profissionais sem deficiência. Incluindo o cachê que é o mesmo, não tem diferença. As portas estão sendo abertas, existe o preconceito, mas ele não é culpado em 100%. As pessoas que querem seguir essa carreira precisam ter em mente que é preciso fazer a sua parte também, estudar, cuidar da aparência, seguir regras. Os resultados são positivos quando fazemos a nossa parte. Palavras a serem seguidas, foco, força e fé.

O que você faz para as mulheres ficarem à vontade com o próprio corpo na hora da fotografia? Sente alguma diferença no momento das fotos, por parte delas, em relação às mulheres que não têm deficiência?

Olho para a pessoa como ela é, de forma natural, sem julgamento, sem preconceito. Valorizo a beleza da pessoa, uso o físico existente e os aparelhos ortopédicos com uma visão fashion, mostro que beleza não é padronizada, que temos que nos amar como somos. Não tem nenhuma diferença na hora de fazer os registros fotográficos, a preocupação com look que fique melhor, maquiagem e cabelo, tudo igual. Até os “pitis” (risos). O que é preciso é ter acesso no local e alguma ajuda na hora de fazer a pose quando o modelo solicita, como por exemplo, para cruzar uma perna, subir em cima de um cavalo ou piano, para deitar e levantar do chão…apenas isso.

A procura pelo seu trabalho é grande?
Graças a Deus, a procura vem aumentando dia após dia, pois não ficamos esperando as oportunidades baterem na porta. Também temos clientes que indicam o trabalho da agência, esse é o melhor marketing. Sempre estamos estudando, procurando melhorar nossos serviços, ficamos de olho nas tendências do mercado e fazemos constantes pesquisas e cursos que ajudem no resultado final. A base é o trabalho em equipe, um ajudando o outro, sempre. Tenho escritório no Tatuapé, zona leste de São Paulo.

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