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Mergulhando em águas mais profundas

victor redes - interno

Engraçado como os valores das pessoas, no que tange a relacionamentos, andam mudados, não é? As pessoas valorizam relacionamentos superficiais e se escondem de relacionamentos profundos. Elas procuram amores duradouros em transas aleatórias e tratam como se não fosse nada interesses sérios. É uma questão de valorizar o que deve ser descartado e descartar o que deve ser valorizado. E, no meio desse jogo todo, dessa loucura que é buscar um relacionamento sério atualmente, quem se expõe, quem busca mostrar que está interessado, acaba sendo descartado, justamente por isso, por se mostrar interessado.

Conversando com alguns amigos, colegas e conhecidos, me peguei com um pensamento que me martelou muito até eu começar a escrever esse texto: por que as pessoas agem assim? Há muito tempo penso que a ideia de autodefesa é a mais correta nesses casos, as pessoas preferem não se expor para não sofrerem e aí acabam sabotando os seus relacionamentos.

Contudo, de uns tempos para cá, tenho analisado mais a fundo a questão e criado um novo conceito sobre a coisa. Percebi que muitas vezes as pessoas agem assim para que seja mais fácil descartar o relacionamento. Ou seja, as pessoas tratam esses relacionamentos de forma superficial para que, assim, os relacionamentos acabem se tornando descartáveis. Logo, quando não for mais de interesse da pessoa, ela joga fora.

E tal conceito se aplica às relações humanas como um todo e não só com relação aos relacionamentos amorosos. Basta ver o seguinte: qual foi a última vez que você perguntou com real interesse como estava a sua mãe? Ou o que seu irmão andava fazendo? Ou o que seu melhor amigo estava passando? A verdade é que, com o aumento das tecnologias, a civilização humana aproximou quem estava longe e separou quem estava perto.

Hoje, sabemos ou temos como saber mais da vida de celebridades do que dos nossos amigos. Ah, tá, você vai falar que basta entrar nas redes sociais e sabe tudo sobre o outro, mas não é verdade. Você só saberá aquilo que a pessoa quer mostrar, não tem conhecimento real sobre os sentimentos da pessoa. Aquela relação olho no olho, quando você percebe o que se passa com o outro só de ouvir a sua voz, isso já não acontece mais.

Quando voltamos a tratar de relacionamentos amorosos, vemos que as pessoas estão cada vez mais focadas em se mostrarem nas redes sociais, em parecerem descoladas e terem mais seguidores e curtidas, do que interagirem de verdade umas com as outras. Afinal de contas, ninguém é 100% feliz o tempo todo, ninguém sai bem em todas as fotos e ninguém está se divertindo sempre. A vida não é um mar de rosas sempre, a gente passa por problemas, privações e afins. Mas, quando isso acontece, a gente nunca mostra nas redes sociais, não é?

Mas não estou falando que você precisa falar dos seus problemas nas redes sociais, mas também não precisa fazer da vida real uma extensão das suas redes sociais. Você precisa saber em quem confiar, com quem compartilhar, com quem trocar ideia, ou seja, você precisa ter amigos, parceiros, pessoas que te sirvam de porto seguro.

Daí minha estranheza com essa postura das pessoas no âmbito dos relacionamentos, visto que elas tornam superficial uma relação que exige extrema intimidade para gerar a confiança, mas, ainda assim, preferem tratar de forma superficial. Ou seja, elas não trocam com o parceiro. Não interagem com ele, não aprofundam a relação e fazem com quem aquela pessoa tão presente na vida dela não seja nada além de um estranho que frequenta a sua casa.

Uma característica dessa geração é mostrar interesse pelo total desinteresse, quase um desprezo. Quanto mais a pessoa se mostra desinteressada, aí que ela acha que o outro precisa correr atrás, precisa fazer por onde, precisa mostrar que quer, para fazer a pessoa perceber que aquele outro, que está se mostrando interessado, é digno.

Como eu canso de falar, cheguei a uma idade que sei bem o que eu quero e o que eu não quero, sendo assim, se a pessoa não demonstra interesse, eu não quero. Claro que entendo que existe o charme, o jogo e tudo mais, contudo, não me prendo muito a essa questão. Com a minha idade e a minha cabeça, só consigo pensar que qualquer joguinho é perda de tempo. A pessoa pode ter dúvidas sobre o que vai ser daquilo, se vai valer a pena, mas ela não pode ter dúvida se quer ou não quer.

É algo bem simples para mim: eu não estou aqui para perder tempo procurando estar com alguém que não faz questão da minha companhia. E, para mim, tudo é a reciprocidade, não vejo problema em ouvir os problemas da pessoa, desde que ela esteja disposta e interessada nos meus também. É muito fácil viver só as coisas boas ao meu lado, estar aberta a viver as festas, as glórias, os eventos, mas quero ver enfrentar doença, desemprego, problemas de família…

A questão é que relacionamento é muito mais do que só momentos felizes, a vida é muito mais do que isso, a gente chora também, sofre, tem problema, briga, discute, reclama, tem mau humor, passa por poucas e boas, mas, se você não pode contar com a pessoa que você escolheu para partilhar a sua vida, você vai contar com quem?!

Mas aí vem outro ponto, como a pessoa vai poder te ajudar com os seus problemas se você nunca falou dos seus problemas para ela? Muitos de nós se escondem atrás de uma máscara de perfeição, que precisamos forjar, para manter nossa imagem imaculada de que somos perfeitos, sem que assim possamos representar um fardo para a pessoa que se dispõe a estar ao nosso lado, fingindo um interesse superficial, enquanto fazemos a mesma coisa pela pessoa.

Bem, isso para mim não serve. Não quero alguém que se interesse por saber do meu dia só até eu responder que foi tudo bem, quero poder partilhar, quero poder trocar, quero poder conversar, pedir conselho, desabafar, quero poder pedir colo, quero poder chorar na frente da pessoa, quero poder fazer qualquer coisa, quero saber que, para ela, minha vida não precisa ser perfeita, mas é comigo, mesmo no meu caos, no meu armagedon, com quem ela quer passar o resto da vida dela, ao lado, sendo parte integrante da minha vida, assim como eu serei da dela. Afinal, eu gosto de mergulhar em águas mais profundas.

 

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