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Os descendentes que fazem a nossa história

Os descendentes
Entrada da Comunidade Astrogilda Cafundá – Vargem Grande, vertente sul do Maciço da Pedra Branca | Foto: Felipe Tubarão

Você sabia que aqui na região ainda existem duas comunidades quilombolas, que preservam a cultura dos negros que viveram por aqui pelas Vargens e Jacarepaguá? Que os escravos de um quilombo que existiu em 1880 teriam aberto uma trilha que ainda hoje é visitada e revela uma bela vista do Recreio?

De acordo com a Fundação Palmares, instituição pública-federal voltada para promoção e preservação da arte e da cultura afro-brasileira, a cidade do Rio de Janeiro possui quatro comunidades descendentes de antigos quilombos formados por escravos refugiados. E duas delas estão aqui na região, dentro do Parque Estadual da Pedra Branca. São elas a comunidade quilombola Cafundá Astrogilda, em Vargem Grande, e a Camorim – Maciço da Pedra Branca, ambas certificadas em julho deste ano.

A comunidade Cafundá Astrogilda nasceu há mais de dois séculos e foi batizada com este nome em homenagem à matriarca, senhora Astrogilda. O nome “Cafundá” se refere a lugar distante.

– A nossa comunidade vive aqui desde 1800. Somos descendentes de escravos da Fazenda de Vargem Grande. O povo da floresta é dono de um saber tradicional, algo único que não se ensina na escola e sabe melhor do que ninguém cuidar do meio em que vive, pois depende dele para viver. Toda essa gente se fundiu com a floresta em um processo de simbiose, é um povo com uma cultura única e o melhor: bem no meio a cidade do Rio de Janeiro, conta o morador Sandro Santos Silva.

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Igreja São Gonçalo do Amarante: construção existe desde o século XVII | Foto: Divulgação

A comunidade Camorim – Maciço da Pedra Branca é ainda mais antiga. Nasceu em 1574, remanescente do quilombo que existia dentro das terras da antiga Fazenda do Camorim, de Gonçalo Correia de Sá. A capela de São Gonçalo de Amarante, construída em 1625, é até hoje ponto de referência local e foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

– Nossa comunidade tem 836 famílias. Com a certificação, saímos do invisível. Agora, nossa luta é conseguir, junto ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), a demarcação de terras. A riqueza histórica aqui dentro é muito grande, temos vestígios de plantações de café, do antigo engenho do Camorim. Além disso, valorizamos nossa cultura com diversos projetos, como oficina de danças afro e capoeira, artesanato com material reciclado, o curso de guias, no qual moradores da região se preparam para serem guias turísticos dentro do Parque da Pedra Branca, enumera o presidente da Associação Cultural do Camorim, Adilson Almeida.

Almeida também conta que escravos de engenhos da região fugiam para o quilombo que existia dentro da Fazenda Camorim, abrindo uma trilha, conhecida hoje como a Trilha da Pedra do Quilombo. De acordo com o Guia de Trilhas do Parque da Pedra Branca, o quilombo existiu nas terras da fazenda por volta de 1880.

TRILHA DA PEDRA DO QUILOMBO

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Vista da Trilha do Quilombo: um paraíso a quase 800m de altura bem aqui pertinho | Foto: Hugo de Castro

Com 3,3 km de extensão, a trilha é uma possibilidade para quem deseja passear e ter uma vista de praticamente toda a Zona Oeste. Percorrendo-se um caminho íngreme, passando por riachos e uma floresta fechada, chega-se à Pedra do Quilombo, a 735 metros de altitude.

– O melhor da trilha da Pedra do Quilombo é o visual que se tem do cume da Pedra do Quilombo. A caminhada em si não é tão diferente, mas é compensador chegar lá em cima, explica Hugo de Castro, autor do Guia de Trilhas do Parque da Pedra Branca, do site Clube dos Aventureiros e integrante do Centro Excursionista Brasileiro, que é o primeiro clube de montanha do país e completou 95 no dia 1º de novembro.

Em dias de céu aberto, dá para ver até uma parte da Baía de Guanabara e montanhas da Serra dos Órgãos. A entrada da trilha se dá pela sede Pau da Fome, localizada na Taquara. Ainda de acordo com Hugo de Castro, o grau de dificuldade da caminhada é médio e ela exige um certo esforço físico.

Serviço

Trilha da Pedra do Quilombo
PEPB – Núcleo Pau da Fome
Estrada do Pau da Fome, 4003, Taquara, Jacarepaguá
Telefone: (21) 2333-6608
Horário de visitação: de terça a domingo, das 8h às 17h.
Neste núcleo, estão localizados a sede e o centro de visitantes, com exposição permanente. Há um anfiteatro e áreas de lazer com tratamento paisagístico e sinalização direcional. O parque não conta com guias. O passeio é gratuito.

Hugo de Castro
Para fazer trilhas, de acordo com o autor do site Clube dos Aventureiros, basta juntar-se ao grupo enviando um e-mail para hugo@clubedosaventureiros.com. O passeio é gratuito.

Visitação das comunidades
Quilombo Cafundá Astrogilda – Entrar em contato com Sandro Silva pelo e-mail sandrotcvg@oi.com.br 
Quilombo Camorim
Passeio em grutas, plantações de café e cachoeiras. Ligar para Adilson Almeida – (21) 98320-2634/98765-9939 ou entrar em contato pelo Facebook – facebook.com/acuca.camorim

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